terça-feira, 2 de setembro de 2008

Você abriria essa lata?

Aconteceu assim...


Semana passada comprei uma lata de um produto que prefiro não citar o nome. Um pouco antes de guardá-la pude ler no rótulo: “Não contém químicos”.
Minha imaginação fértil, brincalhona e atualmente obsessiva por linguagem foi logo criando a imagem do interior da lata repleta de homenzinhos, todos matemáticos, físicos, qualquer coisa, menos químicos.

Depois de rir sozinho um pouco, imaginando o que eles estariam fazendo dentro da lata, assumi um ar um pouco mais sério e preocupado, pois fora da minha brincadeira mental, eu não conseguia imaginar seriamente o que havia dentro daquela lata, afinal quase tudo que conheço no plano real tangível e especialmente industrial é químico, como a água [H2O, o ar, e os alimentos, enfim. Então afinal, o que tinha ali dentro?

A primeira coisa que me ocorreu foi energia. Sim, isso mesmo, é um produto industrial vendido aos consumidores e não é exatamente químico, embora possa ser produzido quimicamente. Mas nesse caso, poderia ser perigoso abrir a lata, o rótulo não especificava a voltagem, corrente, etc. Eu poderia morrer eletrocutado ou causar uma catástrofe no bairro.

Como a marca do produto mencionava um santo, pensei na possibilidade de algo espiritual. Mas também não me daria coragem de abrir a lata, se fosse uma entidade do mal, me faria mal; se fosse do bem me julgaria, e eu me daria mal. Muitos pecados, sabe como é, né? Mais uma vez não quis abris a lata.

Finalmente pensei na última possibilidade: seria algo abstrato, intangível, metafísico. A lata estaria cheia de amor, felicidade, esperança, virtude... Que bom! Já temos isso em lata, logo teremos em pó! Mas por outro lado, poderia ser ódio, tristeza, pessimismo,...

Definitivamente não vou abrir.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Mini, micro e nano contos





Avó Eugenia

A melhor avó, a melhor mãe e também a melhor esposa do mundo, fazia o melhor biscoito de coco do mundo que era servido juntamente com o melhor cafezinho do mundo. Tudo isso não seria motivo de tristeza, se não fosse contado no velório da Dona Eugenia.

O poeta
Ele sempre se achou um poeta, alma de poeta e comportamento de poeta. Sempre sofreu as desilusões da paixão e viveu amores não correspondidos. Isso é tão intenso que ele esquece de escrever o seu primeiro verso.

O desenhista
Ao vê-la nua, o primeiro desejo foi brincar de liga-pontinhos em sua pele sardenta.
O naufrago
Dois dias no mar e seis meses em uma ilha, o suficiente para confundir coqueiros com prédios e formigas com humanos.

O porteiro
Ele se mexia e remexia na cadeira, a sua cueca já estava molhada, o calor só aumentava, a cada instante, sentia mais quente entre suas pernas: Esbarrou na xícara de chá, no rápido cochilo.
Loteria
Chico sempre jogava os números sorteados da semana anterior. Essa semana ele foi um vencedor por tempo suficiente de alguns gritos e pulos... A moça da loteria esqueceu de trocar o cartaz do resultado.

Deputado Alberto
Durante o jantar em comemoração dos bons resultados nos negócios, Alberto pediu licença aos demais convidados e foi se lamentar no jardim dos fundos. Alberto enjoou de calabresa.
Amor indiferente
Ele a ama loucamente, ele não consegue pensar em mais nada, além de seu amor. Ela também ama loucamente, ainda assim, ele vive afogado em melancolia. Pois ela ama o amigo dele.
Par ou Impar
João nasceu, jogou ‘par ou impar’ com espelho, pediu impar: perdeu. João enlouqueceu, jogou ‘par ou impar’ com espelho, pediu par: morreu.

Hipocondríaco
Aspirina, rivotril, ritalina, diazepam, diempax, lexotan, toma isso e mais algumas doses de outros remédios para combater a hipocondria que ele tem tanto medo.

Rosa
Sapato rosa com meias rosa, saia rosa, blusinha decotada rosa, óculos rosa e batom rosa, além de um laço rosa no cabelo. No colégio o apelido de Rosa é Menina-incolor. Dizem até que ela não tem cérebro, e sim uma borboleta rosa que voa livremente dentro da cabeça oca.

Teoria do Caos

Lucíola escolheu uma mini-saia, notou o pneu do carro: furado. Atrasada para o trabalho, pegou a bicicleta. No outro dia, não entendeu o desastre relatado no jornal: o guarda de transito, distraído, esqueceu de parar os carros na faixa na frente da escola, causando a morte de três crianças que atravessavam correndo.

O carregador
Correntes de ferro se esticavam causando um rangido que poderia ser ouvido de muito longe. Ele fazia muita força para levantar as duas toneladas de penas. Puxava, puxava, puxava, erguia fazendo um barulho infernal,... Finalmente, o guincho conseguiu colocar a carga no navio. O operador que estava sentado em uma poltrona almofadada e controlava tudo com apenas uma mão, liga o ar-condicionado e pede, pelo rádio, um café.

Caipira na cidade
Pensou: se eles soubessem que tenho um lago inteiro só para mim, nem pensariam em piscina; se soubessem que tenho uma floresta inteira só para mim, nem pensariam em jardim; se soubessem que tenho uma fauna inteira só para mim, não contentariam com apenas um gato ou um cachorro; e, só de pensar que posso produzir tudo o que preciso para viver, esqueceriam da briga pelo dinheiro e comércio e viveriam na roça.

Homenagem

O medo

Que medo é esse?
O medo é nome
Timidez sobrenome
E fobia codinome

O medo do medo
E da coragem
Da grade do medo
E da liberdade

O medo do bicho
Na solidão
O medo do homem
Na multidão

O medo do futuro
É o presente do medo
O medo de deus
É o medo da morte

E tremo, e corro,
E choro de medo.

Medo do mundo
Do medo que dá...
Medo!

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Essa é uma homenagem a esse que está presente hoje na vida de todos nós, ao nosso grande mito do imaginário popular, o meu grande amigo íntimo: o medo!

Surto

Sem títulos e sem sentido - aparente


Escolher é discriminar
Definir é limitar
O conhecimento é universal
A opinião é pessoal
Entendi, gostei
Universalizei escolhendo
Discriminei gostando
Pessoalmente opinei:
Que merda, errei.
Sou um homem simples,
Com minhas complexidades.
Sou uma porção de mentiras
E outra de verdades.
A minha alma é rasgada em tiras,
Em cada tira, uma parte da vida.
Em cada parte, um sentimento.
Em cada um deles, uma ferida.
A pele escura
Há pela
rua
A pele nua

Há vontade crua

A crueldade sua.
O verbo é uma cor,
A ação não tem sabor.
A dor é quente.
O som áspero...
O verbo não tem cor,
a ação não tem sabor,
não nego o dissabor.
Sou um átomo,
Sou o universo.

Sou um livro inteiro,
Ou somente um verso.

Não sou brasileiro,

Sou do mundo.

Não sou diplomata,
Não sou vagabundo.

Sou um, dois ou três.

Se sou mais, não sei.

Sou sim, não e talvez.

Sou esse indefinido

Sou o que descreve

Sou o que interpreta

E o que escreve.
Menino, destino e azar.
Cidade, realidade, roubar.
Não come, a fome, matar.
Tá! Tá! Tá!
Como foge do lobisomem?
Come, se está com fome.

Se está com fome, mame.

Ame, se quer ser amado.

Perdoe e seja perdoado.

Viva, não é pecado.
Não vale a pena, uma vez apenas.
Mexe, não pare.
Agora, pare e repare.
Eu quero mais, por favor, faz!
Mais uma vez, duas ou três talvez.
Até de manhã, ou até amanhã.
De hoje a eternidade, quando durar a vontade.
Luz – temperatura
Expressão pura.
Faíscas de gelo

Trituram o cheiro...
Rasgado pela unha de leão.
Palavra-navalha...
O coração pela pedra esmagado
Dilacerado pela paixão,
Assim, ficou em migalhas.
Partes, pedaços, porções,
Cortes, talhos e ilusões.

Pé de aço, forte!

Pedaços, pedaços, pedaços,
Todos frágeis.

Sobre o ato





Esperando o Insight

Eu quero escrever...
Não sei sobre o quê.

Eu quero expressar-me...
Não sei o que dizer.

Isso passará, apesar do querer.

Isso voltará, ao pensar em você.

Eu então escreverei...
Sem saber o porquê.

Enquanto não penso,
Deixo-me subtender.

Isso passará, apesar do querer.

Nota de falecimento



A poesia

Língua-morta,
Usada por uma pequena legião

Vela: chora lágrimas de cera.

Velha será!


Língua-torta,

Angustiada por consciências
Vela: acesa chama vermelha.

Vermelhar!


O que será?

Poesia: Desintegra a linguagem...
Pincela na própria paisagem que está:
Língua-morta.

domingo, 31 de agosto de 2008

Dos direitos e garantias fundamentais






Art. 5º Todos são iguais perante a lei

IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;

IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;

LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;

XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais;

XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal;
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"A liberdade, Sancho, é um dos mais preciosos dons que os céus deram aos homens, a ela não podem se igualar os tesouros que a terra encerra nem que o mar encobre; pela liberdade, assim como pela honra, podemos e devemos aventurar a vida, e, pelo contrário, a prisão é o maior mal que pode atingir os homens."
[Miguel de Cervantes, "dom Quixote de La Mancha"]
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O privilégio é uma realidade! A hipocrisia é uma realidade! Desilusões, enfim. Mas é tão bonita a legislação no papel que pensei que esses fragmentos ficariam bem no blog, assim como um belo afresco ou um lustre numa sala: um adorno. Resolvi postá-los. Pois assim podem também servir como um protesto pela liberdade de pensamento e expressão.

É bom lembrar que não existe legislação específica para a Internet. As leias que valem aqui no mundo virtual são as mesmas do mundo real. Internet é terra de ninguém, terra sem lei, é o mundo onde a propriedade não tem vez. Aqui o primeiro a puxar o gatilho é o dono da festa! E não é um caos, como bem poderia ser. A internet é uma grande festa, os portais e comunidades são aqueles cantinhos onde pessoas interessantes batem aquele papo agradável.

Pois, bem, se não se identificou com o meu cantinho aperte Ctrl+W ou busque o seu. Nem deus agrada a todos... Cada um no seu quadrado. Deixe-me fazer o que gosto e como quiser! Afinal, ainda há alguém que lute pela liberdade!
Se gostou, és bem vindo[a]! Puxe o seu banquinho e vamos prozear, divagar sobre o útil que é interessante e o inútil que nos faz rir. Não precisa me agradar, mas precisa seguir a lógica interna subtendida desse mundo. A palavra aqui é entretendimento!


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Todos esses fragmentos são partes retiradas da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.




sábado, 30 de agosto de 2008

Sobre a Felicidade




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A Felicidade é lá!

O que é felicidade? Onde se encontra a felicidade? São perguntas comuns que qualquer ser humano, independente de raça, etnia ou crença pode responder com o instinto e a intuição: não sabemos ao certo o que é, mas sabemos que está lá em algum lugar e que podemos encontrá-la.

Por que lá e não aqui? A felicidade é um desejo, e é instituída, assim como todos os desejos, pelo Ausente. Só posso desejar o que não tenho...

O homem necessita de desejos, objetivos e certeza para uma vida estável. Coisas que a Natureza não oferece, ao contrário, o que vemos é inconstância e o Caos do universo, a falta de sentido,... Isso causa o desespero: Há quem diga que a Felicidade não existe, o que é existe é o Sofrimento, e que a felicidade é somente um substantivo ao alívio desse sofrimento. Nessa perspectiva, quando não estivermos sofrendo a falta de alguma coisa, estaremos entediados por possuirmos o objeto do nosso desejo anterior. Esse pensamento confirma gratuitamente que a felicidade está lá e nunca aqui, é algo distante. A Felicidade é onipresente, pois em todos os lugares há uma possibilidade de busca da felicidade: nas fotografias só temos fragmentos de momentos felizes.

A felicidade é conceitual, isto é, uma valoração do homem ao objeto. Visto que cada pessoa pode decidir por objetivos distintos, conclui-se que a felicidade é um conceito relativista e individual. Onde a felicidade de um senhor idoso pode ser uma casa no campo, e a felicidade de um jovem pode ser uma mulata [É importante observar que o senhor pode já ter desejado uma mulata em sua juventude]. Um objetivo/desejo é valorado como felicidade, mas quando alcançado/realizado já não é mais felicidade, é escolhido então outro objetivo/desejo para ser a felicidade.

No entanto, a Felicidade não se abstém a esse conceito relativista, há sempre um princípio universal a todos: a Harmonia. Onde se tem uma estrutura de sentidos para a vida. Isto é, o fim dos conflitos e embates que é vivido constantemente pelo homem por ser condenado à sua consciência. A Felicidade, elevada às ultimas conseqüências, é a Harmonia. Disso tem-se a felicidade como um estado de espírito. Esse “estado de espírito” é um auto-conhecimento. Mas há quem chegue a esse estado pela ignorância, simplesmente ignorando, pelos prazeres momentâneos, os conflitos: “Quem traz na pele essa marca possui a estranha mania de ter fé na vida”.

Em todo caso, é preciso sensibilidade para fazer a harmonia e o equilíbrio mentalmente, aceitar as dores, incômodos e conflitos, que podem ser construtivos, e viver intensamente a busca. O segredo da felicidade habita o interior-individual. Por exemplo, ter a ‘pessoa certa’, ser bem sucedido, dentre outras coisas desejadas hoje, são objetivos de vida, mas não deixam de caracterizar como realização pessoal.

Finalmente, para ser uma pessoa feliz, busque a felicidade. Mas já que você nunca chegará à felicidade, viva a busca. Busque a felicidade no prazer, na comodidade, na alegria e na euforia. Mas não confunda felicidade com prazer, pois é do equilíbrio entre o prazer e a dor é que se dá a felicidade; não confunda felicidade com comodidade, pois a comodidade somente pode se tornar monótona, é preciso o incômodo como conflito; não confunda felicidade com alegria e nem com euforia, esses são prazeres momentâneos.

A felicidade está lá! Boa sorte!

Pau-no Coelho que me aguarde!

Desabafo!


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Posso fazer um desabafo aqui?


Eu não confio em fakes, esses falsos perfis que muito frequentemente encontramos pela internet. Acho um saco! Já temos que viver todo dia com uma máscara para tudo: trabalho, família, sociedade... E mesmo aqui tem que ter essa relação com gente que não sei por qual incentivo e motivação fica fingindo.

Para não criar uma falsa generalização, é bom ressaltar que acredito em alguns, existem pessoas que de fato tem algo a contribuir. Nesse o caso o fake para mim é considerado um eu-lírico. Como numa bela frase do Oscar Wilde:

"O homem é menos ele mesmo quando fala na sua própria pessoa, dê-lhe uma máscara e ele dirá a verdade"
Mas em geral, Alguns vivem suas vidas aqui dentro, um palco, uma exibição de cultura livresca. Mas não passam de montagem, onde o show acaba o brilho esvaece, a maquiagem borra quando desligam o computador, pois nada fazem, nada são, não tem, não desejam. Resumem-se em um dia seguinte, em um sono pequeno e perturbador, numa vida de água e pão, mas sempre famintos e sedentos.
CHEGA DE FINGIMENTO! CHEGA DE NOS ESCONDERMOS ATRÁS DE MENTIRA!
Me enoja tudo isso. Têm algo muito estranho acontecendo com as relações humanas e tudo parece normal. Mostre a cara!

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Acidente de F1

Agora eu era uma função...

Apertaram o F1: Ainda não entendia muito bem onde estava, por que motivo estava, onde iria,... Mas com o auxilio dado...

Apertaram o F2: Colocaram-me um nome, uma identidade.

Apertaram o F3: Com esse procurei... Procurei conhecer.

Apertaram o F4: Abriram-me várias opções. Foi um perigo, pois um vacilo com o Alt a opção seria o fim, a morte!

Apertaram o F5: Atualizei-me, e me livrei desse grande susto. Fui renovado!

Apertaram o F6: Foi quase uma independência, pude escolher um outro caminho.

Apertaram o F7: Fui verificado e alterado, passei a viver de acordo com as regras.

Apertaram o F8: Veio-me o desespero, pois de nada me serviu. Descobri o vazio, a falta de sentido. Sozinho nada era.

Apertaram o F9: O desespero aumentou, era a segunda tecla dependente. Isto é, nada fez sozinha.

Apertaram o F10: O desespero continuou. No entanto me preparei para usar todas as teclas, todas as possibilidades.

Apertaram o F11: Foi nesse momento que visualizei o meu horizonte, vi que era grande demais para eu ser simplesmente mais uma função de uma tecla. Não queria mais ser um comandado, queria ser um comando, quis ser uma tecla.

Apertaram o F12: E ali mesmo, com aquele pensamento de ser uma tecla, me salvaram. Fui eternizado como um sonho, como a tecla que sempre quis ser. “Querer” foi o verbo eternizado. Hoje eu sou o F13: a tecla imaginária, só eu sei a minha função, só eu me comando e sei do meu fim. Hoje eu sou independente de qualquer outra tecla, sou único (ou mesmo únicA, se eu quiser). Agora não é mais “apertaram”, e sim “apertei”!

Apertei o F13: O único menu que me apareceu foi o das minhas vontades! Pois hoje posso ser o que eu quiser!



Para saber mais sobre teclas de função Clique Aqui!

A mosca e a garrafa


A mosca e a garrafa

No espaço determinado,
No tempo dado,
Está cá a garrafa.

Transformando-se no tempo,
Movendo-se no espaço,
Vem de lá a mosca.

Tão rápida, muito rápida.
O vento atrapalha a visão...
Entra a mosca na garrafa.
Sem notar a contra-mão,

Tão rápida, muito rápida.
Parou com a cara no fundo.
Vendo o mundo por um vidro
Bate forte pra sair.

A mosca, desesperada,
Bate de cá e bate de lá.
Para ela, é um problema.
Na verdade, problema não há.


Fiz essa coisa aí pensando na relação do filósofo e a filosofia: Entrou na garrafa porque quis, pensando que havia um grande problema a frente, o de tentar sair da garrafa. Bate de um lado e do outro no vidro, mas a saída é a mesma porta de entrada: a boca da garrafa. Não existe o problema!

Suicídio altruísta



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Renúncia - Uma pátria comum em uma lenta agonia

O diagnóstico está feito: O planeta Terra está doente.
O problema está na cura, não há cura, não há esperança. Não há cura enquanto houver Homo Erectus: fazemos com o planeta o mesmo que uma bactéria faz com um corpo... A natureza é um corpo, é um sistema complexo, uma engrenagem cósmica. E a Terra faz parte desta engrenagem como uma peça muito pequena e frágil diante de bilhões, trilhões... De muitos outros corpos celestes.

Nós homens, animais privilegiados com a razão, o pensamento, a autoconsciência, não pensamos em nós mesmos como meros animais. Acreditamos que o universo inteiro foi feito para nós, a realidade é que pensamos que somos os únicos animais com direito à felicidade e, com isso, todos os outros são massacrados. A natureza em geral.

Aquecimento global, escassez de água, ciclones tropicais, furacões, terremotos, erupções, inundações, seca, desflorestamento, buraco na camada de ozônio, efeito estufa, enfim, esses são fenômenos que superpõem continuamente no mundo todo com freqüência e intensidade cada vez maior.

Face a este cenário, ninguém pensa em racionalizar, mas em controlar as reservas de recursos pela força das armas. O homem não pensa senão economicamente: “Recuperaremos a Amazônia, analisaremos, antes, a relação custo x benefício” é o que se ouve.

Apesar de este acúmulo de catástrofes serem um dos mais exortadores sinais do fim da natureza, muitas pessoas reagem a isso com um indiferente encolher de ombros, como se o assunto não lhes dissesse respeito. "Ora, catástrofes sempre ocorreram, apenas continuam ocorrendo agora!", dizem.

O que elas não percebem [ou não querem perceber] é que essas catástrofes ocorrem com uma freqüência cada vez maior. Os dados estatísticos demonstram, de maneira inequívoca, que todos esses fenômenos da natureza vêm crescendo de maneira ininterrupta. De acordo com a ONU, o número de catástrofes naturais no mundo vem aumentando nos últimos trinta anos em uma taxa média anual de 6%.

O crescimento demográfico apresenta um cenário devastador para o futuro da humanidade. Os humanos se proliferam rapidamente, hoje somos mais de 6 bilhões, 6 bilhões! Somos, atualmente, um desequilíbrio ecológico. A única saída é eliminar o excesso. O Dr. Eric R. Pianka, um renomado ecologista, defende que 90% dos humanos devem morrer para salvar o planeta, isso equivale a 5,4 bilhões de pessoas.

Nesse momento, você leitor, se assusta ao ponto de levantar da cadeira e insultar o autor, pois é incomum alguém sugerir a morte como solução, ainda mais quando se trata da sua morte.

Só que o Dr Piank não é o único a tratar de suicídio altruísta, Émile Durkheim, considerado um dos pais da sociologia também trata! Clique aqui para saber mais sobre o suicídio em Durkheim.

A certeza da morte, desde o início dos tempos humanos, foi motivo de desespero. Desde então, o homem nega ostensivamente a sua própria natureza – animal. Natureza essa que é um simples processo: nascer, crescer, reproduzir e morrer. Descontente com esse processo, estamos sempre em busca de algo maior que nós, algo que justifique a nossa existência, algo que dê sentido: Deus, deuses, filosofias, ciência, explicações de diversas categorias, enfim. Nenhum desses serve a qualquer propósito concreto e permanente. A vida, despida dessas ilusões, torna-se logo insuportável. O homem não contenta em simplesmente ser, dentre outras inutilidades que servem somente para enaltecer o ego, inventou o trabalho; a diversão; acumula, sem explicação, a propriedade. Isto é, a todo momento, o homem inventa artificialidades para a vida. O homem é movido por desejo: de encontrar a si mesmo, de esquecer-se de si mesmo. Esse jogo de egos está causando o fim não só da espécie humana, mas de várias outras. A existência é um jogo, devemos ter uma estratégia e não jogar aleatoriamente.

A vida pode ser um jogo de xadrez, e você perde ou se sacrifica para salvar outros. Muitas vezes um ato de desespero, o resultado de doenças não tratadas e, outras vezes, uma ato de libertação: suicídio. O homem deve renunciar à vida para salvar o planeta; ou, o homem deve renunciar ao planeta para salvar a vida? Que fique evidente, não se trata da vida, mas sim da existência: salvar a espécie!

Se um desconhecido se afoga no mar, imediatamente você pula para ajudar. Aparentemente esse é um ato inexplicável, pois está colocando em risco a própria vida para salvar a vida de um desconhecido. A única explicação é que o instinto de sobrevivência não é individual, mas sim da espécie.

“Pessoalmente não acho que valha a pena considerando que não acredito no pós vida individual. Eu deixo de existir assim que morro e passo a integrar completamente uma totalidade onde não fica resquício algum da minha individualidade ou consciência. É preferível manter essa existência da qual tenho consciência de que posso usufruir individualmente.” Esse é o discurso covarde daqueles que pensam egoisticamente.

Nós estamos no mesmo barco, devemos pensar como um grupo. Como foi explicado pelo pai da biologia moderna, Charles Darwin, a natureza funciona assim: brutal às vezes, para garantir a sobrevivência, a lei do mais forte, lei da selva, seleção natural e evolução das espécies, é o que comprova a ciência. Não se pode, porém, concluir que a sociedade humana também deve operar da mesma forma. O pensamento individual só cabe aqui quando mesclado ao pensamento coletivo: suicídio é uma escolha do indivíduo, mas deve ser uma escolha da maioria para surtir o efeito desejado estrategicamente.

A indução ao suicídio é crime, mas, envidentemente, esse texto não é um planfleto, é um texto artístico de questionamento de valores sociais e morais. Aliás, o estado não deve interferir. A nossa legislação vigente não nos autoriza a cometer suicídio, confundem direito com dever. Direito à vida é diferente de dever à vida. Além disso, todas as religiões condenam o suicídio. Não sabem que a melhor invenção de Deus em relação ao homem foi a possibilidade de desistência da vida. Ou seja, nada pode condenar esse ato nesta circunstância, pois não se trata de fatos patológicos, raciais, genéticos, sociais, geográficos, enfim.

Ao contrário do que muitos pensam, o suicídio não é um ato de covardia, mas sim de coragem. Não obstante, sou cético quanto à existência da covardia. Não é um suicídio impensado, mas sim estratégico. Um ato de hombridade a ser lembrado eternamente, vide Kamikazes que suicidaram para salvar uma pátria; os samurais que cometem o Seppuku [popularmente chamado de Harakiri], onde, quando frustrado em uma determinada situação, o samurai corta o próprio abdômen em um gesto de recuperação da honra e demonstração de bravura; há quem lembre de Jesus e Sócrates. Ao final, penso que, mais do que se preocupar com quem se suicidou, é preciso se preocupar com os familiares, que jamais entenderão essa escolha. No entanto, essa é uma questão que não ocorrerá nessa situação, pois todos estarão cientes do ato...

O suicídio é simplesmente uma troca de valores: antes era a vida, agora é a preservação da espécie. É uma decisão que fica a cargo dos próprios valores. Aliás, esse suicídio proposto seria teoricamente uma eutanásia, visto que o homem, e principalmente a natureza, está sofrendo com a vida, fase terminal da natureza.

É realmente um alento encontrar um posicionamento desses, numa época em que cada palavra de alerta é imediatamente ridicularizada e posta de lado, como altamente inconveniente. É preciso, no entanto, dizer que esse número impressionante de catástrofes da natureza não são "caprichos da mãe Terra", e sim um dos efeitos terrenamente visíveis da insensibilidade humana. O problema é que caminhamos alegremente para a agonia do planeta.

Qual a razão lógica para continuar vivo? E para morrer? Suicidar é um ato de antecipação apenas. Não deixe o suicídio para o dia seguinte!

Faça desse momento um ato de coragem e solidariedade, seja um voluntário à morte! Suicídio coletivo altruísta - é a sugestão.

Sugiro isso como uma pessoa que é, estatisticamente, feliz com a vida e como uma pessoa realista e angustiada: o desepero de querer uma vida sem dor e não saber como alcançá-la. Sempre pensei que o nosso momento físico e individual seja aqui e agora, por isso não esperem de mim o ensinamento pelo exemplo. Estarei entre os viventes, nós que antes fomos sobreviventes seremos felizes em sua homenagem.
Boa sorte!


Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.
Só quero torná-la grande,
ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo.
Só quero torná-la de toda a humanidade;
ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso.
Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue
o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir
para a evolução da humanidade.
”.
[Fernandinho, o Pessoa; em Navegar é Preciso]

Holzwege e a Arte



Holzwege é uma palavra de origem alemã que significa literalmente “caminhos na floresta”.

Heidegger, filósofo alemão, usou esse termo para tratar da epistemologia. Para Heidegger, assim como em uma floresta de mata fechada que os caminhos feitos por um lenhador abrem clareiras onde é possível andar, nós estamos imersos em um Ser de obscuridade, onde a razão e o contato do homem com o mundo abrem caminhos que o guia por essa floresta que é a vida.

É retomado, então, a questão do Ser: a partir desse argumentos, o desconhecido passa a ser o nada, pois o conhecido é palpável e finito, enquanto o desconhecido é infinito, transparente e vazio.

A arte, enquanto algo totalmente novo e distinto de qualquer símbolo, se enquadra nessa categoria de objetos desconhecidos. A arte é vazia, ao menos em primeiro momento. Sendo assim, além da estética, qualquer criação, qualquer objeto novo pode ser considerado como arte. E por que não?

Quero colocar aqui a criação como arte, toda e qualquer criatividade é arte! Não questiono o valor artístico...

O valor artístico só pode ser atribuído a partir da introspecção. A arte para o apreciador é a identificação linguística intangível à concepção. A arte diz, também de forma simbólica, o que as palavras não dizem. A arte para quem faz é processo incerto e a expressão subjetiva.

"O artista é aquele que fixa e torna acessível aos outros o eterno espetáculo de que participam sem perceber" Merleau-Ponty.

E mais, esse algo que acabo de criar é arte! Ipontofinal

[Clique na imagem para AMPLIAR!]

O marco

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Desde aquele dia, morro a cada manhã.
Aquele dia se fez como uma estaca no tempo,
Marcando o antes e o depois como atração e repulsão,
Respectivamente.

Desde aquele dia, desejo somente aquele dia.
Aquele dia me fez ao avesso.
O passado é presente, o passado é futuro, ainda espero o começo,
Ansiosamente.

Desde aquele dia, não durmo.
Aquele dia se fez como um ladrão de sono.
Exausto caí, ronquei tão alto no sonho que não consegui dormi,
Infelizmente.

Desde aquele dia, estou sem chão.
Aquele dia me fez descobri que nada sei sobre paixão.
Já estudei a Bíblia, o Corão, Buda, Aristóteles e Platão,
Inutilmente.

Desde aquele dia, não me impressiono.
Aquele dia se fez para eu impressionar apenas com aquele dia.
Nem o avião, computador, rádio, televisão, metrô ou microscópio.
Inexplicavelmente.

Desde aquele dia, não sorrio.
Aquele dia me fez feliz por um dia e infeliz por todos seguintes.
A esperança fundida com a saudade, como uma espada, cortam,
Dolorosamente.

Desde aquele dia, sou inimigo saudável do calendário.
Aquele dia se fez como probabilidades impossíveis.
Foi o fim de uma expectativa e expectativa de um início,
Simultaneamente.

Desde aquele dia, escrevo somente cartemas.
Aquele dia me fez confuso.
Desenvolvi uma habilidade: quanto mais falo, menos sou compreendido.
Incrivelmente.

Desde aquele dia...
Aquele dia se fez...
Estou sem palavras,
Finalmente.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Formação pessoal ou profissional?

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Bem, é muito comum vermos pessoas sacrificando boa parte de sua vida por uma formação acadêmica. Desse vemos também ramificações: formação profissional e formação pessoal; essa ultima não tão comum, pois a rede pública de ensino convencionou-se a formar cidadãos e profissionais.

A formação da cidadania e a formação profissional é para garantir a estrutura organizacional do bem maior do homem, a vida. No entanto essa finalidade parece não ser clara, pois muito se vê uma desvalorização da própria vida, pessoas que confundem o ter com o ser. Em outras palavras, a profissão existe como uma extensão do corpo, que por sua vez é um suporte para a mente, o pensamento, a consciência. Ou seja, todas as estruturas construídas pela sociedade e suas classes profissionais são um suporte para o conhecimento, o único que subsiste quando toda essa estrutura social saturar.

O homem que tem uma visão ofuscada por um sistema temporário de trabalho, onde sacrificou metade ou mais da sua existência a isto, deixando a própria vida em segundo plano, não teve formação pessoal, formação humana, formação filosofia sobre a sua existência, não vive?

Em minha opinião, Isso é muito relativo, pois o homem age de acordo com uma dinâmica interior própria e decide [valora] o que é profano e o que é sagrado em sua vida, isso com deliberação própria ou, como é mais comum, aceita decisões pré-estabelecidas de um grupo.

Para Marx, o homem se constitui enquanto ser cultural na práxis, que pode ser traduzido como trabalho. Trabalho como ação deliberada do homem, seja qual for a atividade e o fim.

Enquanto há todo esse debate, milhões de operários vivem a única vida que tem e terão baseada em princípios animais, mecanicista. Consiste que uma máquina agressiva, grosseira, sem vida substituiria esse homem. Logo, um ser sem consciência se iguala.

Um homem com três cursos superiores, uma pós-graduação e mestrando em sua área profissional é um irracional? [Irreverência demais nunca é bom!(Risos)]

Uma outra questão digna de importância é a banalidade com que vive esse tipo de pessoa [se é que se pode classificar pessoa por tipo]. Sem contato com a cultura, com a arte e até mesmo com o próprio homem, geralmente se comportam friamente diante de situações extremas. Arrogância, ignorância, agressividade são comportamentos típicos dessas pessoas.

Finalmente, para a manutenção da vida em comunidade é preciso a cidadania e a formação profissional, mas para viver de acordo com a sua própria lei é preciso eliminar estes.

Enfim, formação pessoal ou/e formação profissional?

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Epitáfio




Queria ter escrito antes de morrer algo pra se ler depois da minha morte, e isso é o que tenho de mais belo para escrever. A intenção está entre o pensamento e o verbo, a intenção não realizada é refúgio dos sonhadores. Isso não justifica... Hoje morreria feliz, nasci pelado: contabilizando tudo o que já vivi o saldo é positivo.
Um abraço e até outra vez.