sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Acidente de F1

Agora eu era uma função...

Apertaram o F1: Ainda não entendia muito bem onde estava, por que motivo estava, onde iria,... Mas com o auxilio dado...

Apertaram o F2: Colocaram-me um nome, uma identidade.

Apertaram o F3: Com esse procurei... Procurei conhecer.

Apertaram o F4: Abriram-me várias opções. Foi um perigo, pois um vacilo com o Alt a opção seria o fim, a morte!

Apertaram o F5: Atualizei-me, e me livrei desse grande susto. Fui renovado!

Apertaram o F6: Foi quase uma independência, pude escolher um outro caminho.

Apertaram o F7: Fui verificado e alterado, passei a viver de acordo com as regras.

Apertaram o F8: Veio-me o desespero, pois de nada me serviu. Descobri o vazio, a falta de sentido. Sozinho nada era.

Apertaram o F9: O desespero aumentou, era a segunda tecla dependente. Isto é, nada fez sozinha.

Apertaram o F10: O desespero continuou. No entanto me preparei para usar todas as teclas, todas as possibilidades.

Apertaram o F11: Foi nesse momento que visualizei o meu horizonte, vi que era grande demais para eu ser simplesmente mais uma função de uma tecla. Não queria mais ser um comandado, queria ser um comando, quis ser uma tecla.

Apertaram o F12: E ali mesmo, com aquele pensamento de ser uma tecla, me salvaram. Fui eternizado como um sonho, como a tecla que sempre quis ser. “Querer” foi o verbo eternizado. Hoje eu sou o F13: a tecla imaginária, só eu sei a minha função, só eu me comando e sei do meu fim. Hoje eu sou independente de qualquer outra tecla, sou único (ou mesmo únicA, se eu quiser). Agora não é mais “apertaram”, e sim “apertei”!

Apertei o F13: O único menu que me apareceu foi o das minhas vontades! Pois hoje posso ser o que eu quiser!



Para saber mais sobre teclas de função Clique Aqui!

A mosca e a garrafa


A mosca e a garrafa

No espaço determinado,
No tempo dado,
Está cá a garrafa.

Transformando-se no tempo,
Movendo-se no espaço,
Vem de lá a mosca.

Tão rápida, muito rápida.
O vento atrapalha a visão...
Entra a mosca na garrafa.
Sem notar a contra-mão,

Tão rápida, muito rápida.
Parou com a cara no fundo.
Vendo o mundo por um vidro
Bate forte pra sair.

A mosca, desesperada,
Bate de cá e bate de lá.
Para ela, é um problema.
Na verdade, problema não há.


Fiz essa coisa aí pensando na relação do filósofo e a filosofia: Entrou na garrafa porque quis, pensando que havia um grande problema a frente, o de tentar sair da garrafa. Bate de um lado e do outro no vidro, mas a saída é a mesma porta de entrada: a boca da garrafa. Não existe o problema!

Suicídio altruísta



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Renúncia - Uma pátria comum em uma lenta agonia

O diagnóstico está feito: O planeta Terra está doente.
O problema está na cura, não há cura, não há esperança. Não há cura enquanto houver Homo Erectus: fazemos com o planeta o mesmo que uma bactéria faz com um corpo... A natureza é um corpo, é um sistema complexo, uma engrenagem cósmica. E a Terra faz parte desta engrenagem como uma peça muito pequena e frágil diante de bilhões, trilhões... De muitos outros corpos celestes.

Nós homens, animais privilegiados com a razão, o pensamento, a autoconsciência, não pensamos em nós mesmos como meros animais. Acreditamos que o universo inteiro foi feito para nós, a realidade é que pensamos que somos os únicos animais com direito à felicidade e, com isso, todos os outros são massacrados. A natureza em geral.

Aquecimento global, escassez de água, ciclones tropicais, furacões, terremotos, erupções, inundações, seca, desflorestamento, buraco na camada de ozônio, efeito estufa, enfim, esses são fenômenos que superpõem continuamente no mundo todo com freqüência e intensidade cada vez maior.

Face a este cenário, ninguém pensa em racionalizar, mas em controlar as reservas de recursos pela força das armas. O homem não pensa senão economicamente: “Recuperaremos a Amazônia, analisaremos, antes, a relação custo x benefício” é o que se ouve.

Apesar de este acúmulo de catástrofes serem um dos mais exortadores sinais do fim da natureza, muitas pessoas reagem a isso com um indiferente encolher de ombros, como se o assunto não lhes dissesse respeito. "Ora, catástrofes sempre ocorreram, apenas continuam ocorrendo agora!", dizem.

O que elas não percebem [ou não querem perceber] é que essas catástrofes ocorrem com uma freqüência cada vez maior. Os dados estatísticos demonstram, de maneira inequívoca, que todos esses fenômenos da natureza vêm crescendo de maneira ininterrupta. De acordo com a ONU, o número de catástrofes naturais no mundo vem aumentando nos últimos trinta anos em uma taxa média anual de 6%.

O crescimento demográfico apresenta um cenário devastador para o futuro da humanidade. Os humanos se proliferam rapidamente, hoje somos mais de 6 bilhões, 6 bilhões! Somos, atualmente, um desequilíbrio ecológico. A única saída é eliminar o excesso. O Dr. Eric R. Pianka, um renomado ecologista, defende que 90% dos humanos devem morrer para salvar o planeta, isso equivale a 5,4 bilhões de pessoas.

Nesse momento, você leitor, se assusta ao ponto de levantar da cadeira e insultar o autor, pois é incomum alguém sugerir a morte como solução, ainda mais quando se trata da sua morte.

Só que o Dr Piank não é o único a tratar de suicídio altruísta, Émile Durkheim, considerado um dos pais da sociologia também trata! Clique aqui para saber mais sobre o suicídio em Durkheim.

A certeza da morte, desde o início dos tempos humanos, foi motivo de desespero. Desde então, o homem nega ostensivamente a sua própria natureza – animal. Natureza essa que é um simples processo: nascer, crescer, reproduzir e morrer. Descontente com esse processo, estamos sempre em busca de algo maior que nós, algo que justifique a nossa existência, algo que dê sentido: Deus, deuses, filosofias, ciência, explicações de diversas categorias, enfim. Nenhum desses serve a qualquer propósito concreto e permanente. A vida, despida dessas ilusões, torna-se logo insuportável. O homem não contenta em simplesmente ser, dentre outras inutilidades que servem somente para enaltecer o ego, inventou o trabalho; a diversão; acumula, sem explicação, a propriedade. Isto é, a todo momento, o homem inventa artificialidades para a vida. O homem é movido por desejo: de encontrar a si mesmo, de esquecer-se de si mesmo. Esse jogo de egos está causando o fim não só da espécie humana, mas de várias outras. A existência é um jogo, devemos ter uma estratégia e não jogar aleatoriamente.

A vida pode ser um jogo de xadrez, e você perde ou se sacrifica para salvar outros. Muitas vezes um ato de desespero, o resultado de doenças não tratadas e, outras vezes, uma ato de libertação: suicídio. O homem deve renunciar à vida para salvar o planeta; ou, o homem deve renunciar ao planeta para salvar a vida? Que fique evidente, não se trata da vida, mas sim da existência: salvar a espécie!

Se um desconhecido se afoga no mar, imediatamente você pula para ajudar. Aparentemente esse é um ato inexplicável, pois está colocando em risco a própria vida para salvar a vida de um desconhecido. A única explicação é que o instinto de sobrevivência não é individual, mas sim da espécie.

“Pessoalmente não acho que valha a pena considerando que não acredito no pós vida individual. Eu deixo de existir assim que morro e passo a integrar completamente uma totalidade onde não fica resquício algum da minha individualidade ou consciência. É preferível manter essa existência da qual tenho consciência de que posso usufruir individualmente.” Esse é o discurso covarde daqueles que pensam egoisticamente.

Nós estamos no mesmo barco, devemos pensar como um grupo. Como foi explicado pelo pai da biologia moderna, Charles Darwin, a natureza funciona assim: brutal às vezes, para garantir a sobrevivência, a lei do mais forte, lei da selva, seleção natural e evolução das espécies, é o que comprova a ciência. Não se pode, porém, concluir que a sociedade humana também deve operar da mesma forma. O pensamento individual só cabe aqui quando mesclado ao pensamento coletivo: suicídio é uma escolha do indivíduo, mas deve ser uma escolha da maioria para surtir o efeito desejado estrategicamente.

A indução ao suicídio é crime, mas, envidentemente, esse texto não é um planfleto, é um texto artístico de questionamento de valores sociais e morais. Aliás, o estado não deve interferir. A nossa legislação vigente não nos autoriza a cometer suicídio, confundem direito com dever. Direito à vida é diferente de dever à vida. Além disso, todas as religiões condenam o suicídio. Não sabem que a melhor invenção de Deus em relação ao homem foi a possibilidade de desistência da vida. Ou seja, nada pode condenar esse ato nesta circunstância, pois não se trata de fatos patológicos, raciais, genéticos, sociais, geográficos, enfim.

Ao contrário do que muitos pensam, o suicídio não é um ato de covardia, mas sim de coragem. Não obstante, sou cético quanto à existência da covardia. Não é um suicídio impensado, mas sim estratégico. Um ato de hombridade a ser lembrado eternamente, vide Kamikazes que suicidaram para salvar uma pátria; os samurais que cometem o Seppuku [popularmente chamado de Harakiri], onde, quando frustrado em uma determinada situação, o samurai corta o próprio abdômen em um gesto de recuperação da honra e demonstração de bravura; há quem lembre de Jesus e Sócrates. Ao final, penso que, mais do que se preocupar com quem se suicidou, é preciso se preocupar com os familiares, que jamais entenderão essa escolha. No entanto, essa é uma questão que não ocorrerá nessa situação, pois todos estarão cientes do ato...

O suicídio é simplesmente uma troca de valores: antes era a vida, agora é a preservação da espécie. É uma decisão que fica a cargo dos próprios valores. Aliás, esse suicídio proposto seria teoricamente uma eutanásia, visto que o homem, e principalmente a natureza, está sofrendo com a vida, fase terminal da natureza.

É realmente um alento encontrar um posicionamento desses, numa época em que cada palavra de alerta é imediatamente ridicularizada e posta de lado, como altamente inconveniente. É preciso, no entanto, dizer que esse número impressionante de catástrofes da natureza não são "caprichos da mãe Terra", e sim um dos efeitos terrenamente visíveis da insensibilidade humana. O problema é que caminhamos alegremente para a agonia do planeta.

Qual a razão lógica para continuar vivo? E para morrer? Suicidar é um ato de antecipação apenas. Não deixe o suicídio para o dia seguinte!

Faça desse momento um ato de coragem e solidariedade, seja um voluntário à morte! Suicídio coletivo altruísta - é a sugestão.

Sugiro isso como uma pessoa que é, estatisticamente, feliz com a vida e como uma pessoa realista e angustiada: o desepero de querer uma vida sem dor e não saber como alcançá-la. Sempre pensei que o nosso momento físico e individual seja aqui e agora, por isso não esperem de mim o ensinamento pelo exemplo. Estarei entre os viventes, nós que antes fomos sobreviventes seremos felizes em sua homenagem.
Boa sorte!


Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.
Só quero torná-la grande,
ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo.
Só quero torná-la de toda a humanidade;
ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso.
Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue
o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir
para a evolução da humanidade.
”.
[Fernandinho, o Pessoa; em Navegar é Preciso]

Holzwege e a Arte



Holzwege é uma palavra de origem alemã que significa literalmente “caminhos na floresta”.

Heidegger, filósofo alemão, usou esse termo para tratar da epistemologia. Para Heidegger, assim como em uma floresta de mata fechada que os caminhos feitos por um lenhador abrem clareiras onde é possível andar, nós estamos imersos em um Ser de obscuridade, onde a razão e o contato do homem com o mundo abrem caminhos que o guia por essa floresta que é a vida.

É retomado, então, a questão do Ser: a partir desse argumentos, o desconhecido passa a ser o nada, pois o conhecido é palpável e finito, enquanto o desconhecido é infinito, transparente e vazio.

A arte, enquanto algo totalmente novo e distinto de qualquer símbolo, se enquadra nessa categoria de objetos desconhecidos. A arte é vazia, ao menos em primeiro momento. Sendo assim, além da estética, qualquer criação, qualquer objeto novo pode ser considerado como arte. E por que não?

Quero colocar aqui a criação como arte, toda e qualquer criatividade é arte! Não questiono o valor artístico...

O valor artístico só pode ser atribuído a partir da introspecção. A arte para o apreciador é a identificação linguística intangível à concepção. A arte diz, também de forma simbólica, o que as palavras não dizem. A arte para quem faz é processo incerto e a expressão subjetiva.

"O artista é aquele que fixa e torna acessível aos outros o eterno espetáculo de que participam sem perceber" Merleau-Ponty.

E mais, esse algo que acabo de criar é arte! Ipontofinal

[Clique na imagem para AMPLIAR!]

O marco

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Desde aquele dia, morro a cada manhã.
Aquele dia se fez como uma estaca no tempo,
Marcando o antes e o depois como atração e repulsão,
Respectivamente.

Desde aquele dia, desejo somente aquele dia.
Aquele dia me fez ao avesso.
O passado é presente, o passado é futuro, ainda espero o começo,
Ansiosamente.

Desde aquele dia, não durmo.
Aquele dia se fez como um ladrão de sono.
Exausto caí, ronquei tão alto no sonho que não consegui dormi,
Infelizmente.

Desde aquele dia, estou sem chão.
Aquele dia me fez descobri que nada sei sobre paixão.
Já estudei a Bíblia, o Corão, Buda, Aristóteles e Platão,
Inutilmente.

Desde aquele dia, não me impressiono.
Aquele dia se fez para eu impressionar apenas com aquele dia.
Nem o avião, computador, rádio, televisão, metrô ou microscópio.
Inexplicavelmente.

Desde aquele dia, não sorrio.
Aquele dia me fez feliz por um dia e infeliz por todos seguintes.
A esperança fundida com a saudade, como uma espada, cortam,
Dolorosamente.

Desde aquele dia, sou inimigo saudável do calendário.
Aquele dia se fez como probabilidades impossíveis.
Foi o fim de uma expectativa e expectativa de um início,
Simultaneamente.

Desde aquele dia, escrevo somente cartemas.
Aquele dia me fez confuso.
Desenvolvi uma habilidade: quanto mais falo, menos sou compreendido.
Incrivelmente.

Desde aquele dia...
Aquele dia se fez...
Estou sem palavras,
Finalmente.